A preparação para sediar a COP30 trouxe à tona um dilema urbano: como acomodar representantes internacionais quando os preços de hospedagem disparam? Em meio ao prestígio do evento climático global, o governo local e a ONU se mobilizam para evitar que a cidade histórica de Belém fique fora do alcance de muitos delegados, diante do impacto de tarifas infladas nos hotéis, impulsionadas por demanda pontual.
A oferta limitada de leitos hoteleiros, aliada à alta procura por parte de participantes oficiais, delegações técnicas e imprensa, tensiona o mercado e coloca em xeque a equação entre hospitalidade e acessibilidade. Representantes da sociedade civil e organismos internacionais alertam: permitir que preços alcancem patamares proibitivos enfraquece o caráter democrático da conferência e prejudica países em desenvolvimento que não dispõem de orçamento volumoso para deslocamentos.
Nesse cenário, tanto o Executivo estadual quanto a representação da ONU iniciaram diálogo com a rede hoteleira. A ideia é negociar pacotes bloqueados com tarifas reguladas, favorecendo reservas antecipadas e garantindo compromisso com transparência. Simultaneamente, estudam-se alternativas de acomodação, como a conversão de instalações universitárias ou sociais em hospedagem temporária, e o uso de embarcações-hotel — estratégia não inédita, mas que reforça a urgência da solução.
A importância da democratização no acesso aos espaços da COP30 se reflete em aspectos práticos e simbólicos. Aumentar o número de voos e direcionar tarifas concedendo prioridade a estruturas de médio porte também estão na pauta. Afinal, a conferência não pode se limitar aos luxos, mas deve se estender à participação de profissionais, ativistas, jornalistas independentes e organizações de menor poder financeiro — públicos essenciais para diversidade de vozes no debate climático.
Ao implantar medidas emergenciais, o poder público sinaliza compromisso com clima de inclusão e justiça ambiental. A abertura de um canal de comunicação direto com participantes — envolvendo reflexão sobre transporte e hospedagem — também representa mudança de postura, resgatando valorização coletiva ao espaço da discussão.
O desafio, por fim, vai além de garantir cama e teto. Trata-se de reafirmar que um evento global como a COP30 deve se caracterizar pelo compartilhamento — e não pela excludência. Se o Pará deseja ser palco de debates acústicos sobre o futuro do planeta, precisa garantir que o microfone esteja ao alcance de todos, não apenas de quem está disposto a pagar mais.