Saneamento Invisível: Apenas 8 das 100 Maiores Cidades Tratam 100% do Esgoto

Um retrato desolador do saneamento no Brasil revela que, entre os cem maiores municípios do país, apenas oito conseguem tratar toda a rede de esgoto que produzem. O dado, extraído do Ranking do Saneamento 2025, mostra que o tratamento de esgoto continua sendo o maior obstáculo à universalização do saneamento básico, reforçando a urgência de investimentos e parcerias estratégicas.

A lista das poucas cidades que alcançaram o marco de 100% de tratamento inclui capitais e municípios com tradição de gestão pública eficiente: Niterói, Jundiaí, Maringá, Cascavel, Piracicaba, Petrópolis, Boa Vista e Salvador. Mais 21 cumprem um percentual acima de 80%, grau considerado próximo da universalização.

Um contraste evidente surge entre as regiões: a maioria das cidades com tratamento completo está no Sul e Sudeste do país. O Norte e o Nordeste, já reconhecidos por desafios estruturais, registram apenas uma cidade cada – Boa Vista e Salvador, respectivamente. Nenhum município da região Centro-Oeste aparece na lista.

O problema não se limita à falta de tratamento. Também é crítica a coleta: para que o município receba a nota máxima, o esgoto precisa ser coletado em pelo menos 90% dos domicílios, segundo o Novo Marco Legal do Saneamento. Esse diferencial é crucial para entender por que tantas cidades sequer chegam próximas dos índices desejados.

Os números gerais reforçam a gravidade da situação. Vinte e sete dos cem maiores municípios tratam menos de 40% do esgoto produzido; apenas 29 atingem o patamar de 80%, considerado razoável. A média nacional entre essas cidades está em torno de 65,11%, longe de garantir controle sanitário e saúde pública.

A carência de tratamento adequado tem consequências diretas e graves. O saneamento deficiente favorece a proliferação de doenças de veiculação hídrica como diarreia, hepatite A e leptospirose — enfermidades que sobrecarregam hospitais e redes de saúde. No último levantamento, o país contabilizou mais de 340 mil internações atribuídas a problemas causados pela falta de saneamento.

Para avançar, especialistas ressaltam a necessidade de uma estratégia híbrida de investimentos públicos e privados. O desafio fiscal exige que os municípios e União busquem parcerias com a iniciativa privada e adotem modelos de financiamento que possibilitem ampliar o acesso sem depender exclusivamente do orçamento público.

O ranking considera três dimensões fundamentais na avaliação: o nível de atendimento ofertado à sociedade; os avanços na melhoria dos serviços de saneamento; e a eficiência da operação. Elementos como investimentos per capita, perdas na distribuição e qualidade do abastecimento também são critérios essenciais.

O balanço é claro: os grandes municípios brasileiros ainda têm muito a avançar em saneamento. Enquanto algumas alcançam a universalização, muitas nem começaram a trilhar o caminho. Restabelecer qualidade de vida, preservar a saúde pública e garantir dignidade são imperativos que não podem esperar — especialmente em países de contrastes tão acentuados.

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