Arrepio em Plumas: A Musa Mileide Mihaile Traz o Pará para o Coração do Samba

Quando o samba é nutrido com raízes profundas, o resultado é uma emoção que vai além do ritmo — é sentimento que escorre pela espinha. No ensaio técnico da Grande Rio, a musa Mileide Mihaile não apenas vestiu um enredo; ela encarnou um homenagear tão poderoso que “se arrepia só de lembrar”, como ela mesma confessou em momento de sincera entrega.

Desde que a escola anunciou “Pororocas Parawaras — as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós”, esse mergulho cultural na essência do Pará passou a pulsar com vida própria. Para Mileide, o vínculo vai além da tela ou da passarela — envolve ancestralidade, crença, festividade. “O Carnaval é uma exaltação das nossas raízes”, afirmou com os olhos brilhando.

O traje refletiu essa intensidade. Inspirada pela lenda da Mãe D’Água, Mileide desfilou sob uma fantasia que evocava o misticismo amazônico: brilhos etéreos, nuances oceânicas e delicadas franjas remetendo aos movimentos das ondas e dos rios que cortam o Pará. A peça não era apenas visualmente impactante; era narrativa corporal, poesia em movimento.

Mas a energia não ficou restrita ao figurino. Quando ela declarou que o enredo traz força com coragem para a avenida, transformou o samba em um território afetivo. O relato foi pessoal — “arrepio”, disse — mas ecoou coletivo. É o reconhecimento de que, ao exaltar a cultura paraense, a escola descobre uma potência universal, capaz de arrepiar não apenas quem nasceu sob o calor da floresta, mas quem olha e sente.

A conexão emocional que Mileide estabeleceu com o enredo reflete uma mudança de paradigma: o Carnaval deixa de ser apenas entretenimento para ganhar caráter de diálogo cultural. A celebração paraense, com seus encantos, artesanato e fé, sai do silêncio e ganha voz em cada passo, em cada batida de tambor.

Mais do que desfilar, Mileide representou. Trouxe consigo a beleza de um povo que vive e resiste na beira dos rios, que cultua entidades e lendas, que transforma trabalho, festa e crença em identidade. O enredo, antes abstrato, se enche de subtom e significado quando foi personificado com tanta paixão.

Na quadra — e muito em breve na Sapucaí — não desfila só a Grande Rio: desfila um abraço simbólico ao Pará. E Mileide, com seu arrepio contagiante, foi a ponte humana entre os mundos. Em sua expressão, a certeza de que quando o samba encontra a memória, nasce um rito de pertencer — e de arrepiar.

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