Equilíbrio, coragem e cultura: o Pará ganha os céus de Belo Horizonte

Em uma performance que mesclou arte, esporte radical e identidade cultural, a atleta paraense Andréza Pereira elevou o highline a uma expressão simbólica de pertencimento. Entre dois edifícios no coração de Belo Horizonte, ela atravessou uma fita estendida a quase 230 metros de altura — o equivalente a um prédio de 17 andares — vestindo uma saia monumental do carimbó com as cores da bandeira paraense.

O espetáculo ocorreu durante uma intervenção urbana que visa [promover intervenções artísticas em espaços públicos]. A travessia impressionou não apenas pela ousadia atlética, mas pela força simbólica de levar o Pará aos céus da capital mineira. Ao adotar o traje típico do carimbó — vestido rodado, colorido, com oito metros de tecido e estampas regionais — Andréza ressignificou sua habilidade técnica, transformando o ato em uma celebração da cultura amazônica em altura.

A combinação entre a leveza do movimento e os riscos de equilíbrio extremo produziu imagens poderosas. A atleta colocou em cena a ancestralidade amazônica numa prática esportiva que exige extremo domínio físico e psicológico. Cada passo sobre a fita se carregava de significado: resistência cultural e desafio aos limites, sob uma perspectiva performática em altura.

A natureza do highline, um desdobramento urbano do slackline, demanda concentração absoluta. Praticantes como Andréza utilizam equipamentos de segurança, ainda que geralmente invisíveis ao público. No entanto, chamou atenção o fato de a saia ter ocultado parte dos aparatos técnicos, reforçando a percepção de que se tratava de um momento performático quase invisível na fragilidade do altíssimo.

O episódio traz à tona a força de uma narrativa que pode ser chamada de política simbólica. Ao trazer o Pará para a paisagem urbana de Minas Gerais, a atleta subverte os limites impostos pelas geografias e os estereótipos regionais. Sua travessia é, portanto, um gesto de visibilidade assertiva: não se trata apenas de um feito esportivo, mas de uma afirmação cultural que se sustenta em coragem e no desejo de representar.

Andréza Pereira, natural de Anapu, já demonstrou versatilidade e determinação em outros contextos, participando de desafios de sobrevivência em televisão. O highline, no entanto, poderá se consolidar como sua marca simbólica no campo das artes performáticas e esportivas.

A ação extrapola o esporte e ecoa como uma declaração: resistência cultural e técnica alinhadas no fio que separa e conecta céu e solo. Uma imagem que, literalmente, eleva a cultura do Norte e fixará na memória de quem presenciar — ou assistir — uma demonstração de força, cor e equilíbrio.

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