Belém foi palco, mais uma vez, de um momento singular onde fé, cultura e celebridades se encontram — e dessa vez sob o brilho do sol e o vai e vem das águas do Rio Guamá. A cantora Fafá de Belém, figura emblemática da música e da identidade paraense, foi a força motriz de uma edição especial do Círio Fluvial que atraiu rostos conhecidos das artes e do entretenimento, transformando uma procissão religiosa em evento de repercussão nacional.
A manhã ganhou outra dimensão quando nomes como Malu Galli, Rafael Kalimann, Nattan, Maria Eduarda de Carvalho e Alane Dias aportaram nas margens do rio para acompanhar a imagem de Nossa Senhora de Nazaré partir em sua viagem sobre as águas. Fafá, ao lado da filha Mariana e das netas Laura e Júlia, participou de cada momento, entre cânticos, orações e emoção visível nos olhares dos que atravessavam o percurso paraense.
A cerimônia comandada pela artista — que há anos dedica-se a promover e valorizar manifestações da cultura amazônica — foi concebida como extensão do Círio tradicional em terra firme. Dessa forma, o Varanda de Nazaré assumiu papel de cenário para reunir os convidados, oferecer vistas privilegiadas ao embarque da imagem e proporcionar convivência entre espiritualidade e glamour.
Há uma simbologia latente nessa aliança entre fé e celebridade. O Círio marítimo não é mera adaptação estética: carrega consigo o desafio de manter o caráter popular e devoto da celebração. Ao unir familiares, autoridades religiosas e artistas sob o mesmo rito, essa edição ressignificou o propósito comunitário, ao mesmo tempo em que amplia o alcance midiático do festejo.
Entre os convidados, o casal Rafa Kalimann e Nattan chamou atenção pela sintonia com o evento: presentes na procissão e atentos às histórias e tradições que atravessam gerações no Pará. Há uma corrente simbólica forte nessa aproximação entre personalidades que transitam entre palcos e redes sociais e anchormanings culturais que compõem o DNA da região.
Em meio às vozes que ecoavam orações e cânticos, houve espaço para reflexões mais densas: o papel da cultura popular nos palcos nacionais; a preservação de celebridades locais, muitas vezes ofuscadas pela centralização cultural da capital; e a possibilidade de celebrar a fé sem perder autenticidade — mesmo quando escoltada por flashes e holofotes.
A imagem de Nossa Senhora de Nazaré deslizou sobre o leito do Guamá sob olhares extasiados. Muitos dos presentes conservavam expressões contidas — era o encontro entre o divino e o terrenal, entre a religiosidade profunda das ruas de Belém e a visibilidade dada pela presença de figuras públicas. A transposição da procissão terrestre para as águas conferiu uma plasticidade inédita ao rito: barcos ladeavam o percurso, moradores acompanhavam nas margens, famílias observavam com devoção, e artistas dividiam espaço com fiéis comuns.
No encerramento do trajeto, a fé parecia mais palpável — e justamente nessa fisicalidade reside o êxito do evento: tornar visíveis as correntes de crença que sustentam o Círio de Nazaré, ao mesmo tempo em que reconhecem que cultura e entretenimento também são canais de expressão social.
Essa edição do Círio Fluvial confirma que a devoção paraense é fluida — atravessa águas, abraça rostos públicos e reafirma sua potência simbólica. Fafá de Belém foi, uma vez mais, agente de convergência entre música, tradição e fé: capaz de transformar procissão em celebração pública onde todos são convidados a se emocionar.